quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Boas Festas pra você também

Estava parado no ponto de ônibus, era o primeiro da fila, quando se aproxima uma mulher de aproximadamente 30 anos. Ela pergunta:

- Faz tempo que está na fila?
- Não.
- Será que demora?
- Acho que sim.
- Que droga, trabalhei o dia todo e ainda tenho que esperar o ônibus. Ainda mais no fim de ano que tem menos circulando.
Silêncio...
Ela atende o celular.
- Alô, oi, estou aqui esperando essa merda de ônibus, a fila está enorme (ela era a segunda da fila), vai demorar uma eternidade, e você nem sabe, ainda trabalho amanhã, é isso mesmo! Amanhã! A cidade tá vazia. Vou fazer o que lá? Ok! Te ligo quando chegar.
Desliga o celular. Olha novamente pra mim, finjo que não é comigo. Ela sussurra.
- Que demora... (passou apenas 3 minutos).
Ela pega o celular e liga. Alô, tia, a Dani tai? Eu tô esperando o ônibus já tem mô tempão, sim, amanhã vou trabalhar, ué, vou fazer o que! Tô cansada viu! Hã? A Dani não tá? Por quê? Ela nem me esperou? Tá, tá, ligo no celular dela. Tchau.
Desliga e liga pra tal de Dani.
- Onde você tá? Nem me esperou, eu tô na fila dessa bosta de ônibus, o que? Ah, você fala isso porque tirou férias coletivas, é fácil falar, tá bom Dani, eu me viro, “vai” acabar meus créditos. Tchau.
Em apenas 10 minutos o ônibus chegou.
- Até que enfim...
Ela embarca e senta no banco que fica perto do cobrador.
- Por que vocês demoraram tanto? Nem tem trânsito e blá, blá, blá, foi reclamando de tudo até eu descer.

Acho que o espírito de fim de ano ainda não encarnou nela. Mas mesmo assim, desejo boas festas pra ela também.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Sávio. O sábio.

Sávio é considerado um sábio, mas ele não compartilhava da mesma opinião. Ele se achava no máximo uma pessoa interessada nas coisas. Mas mesmo assim muita gente o intitula como sábio, pois em poucas palavras esclarece grandes dúvidas de qualquer tema, tem um dom para compreender o universo feminino e exerce perfeitamente o masculino, possui um vocabulário amplo e hipnotizador, é bom pai, marido, funcionário e chefe. Amigos, familiares e colegas de trabalho sempre querem saber a sua opinião para ter certeza que está fazendo a coisa certa. E mesmo assim, Sávio não se considera um sábio.

Sávio é um cara que tem uma visão periférica, mas repara nos detalhes, admira o luxo, mas aprecia a simplicidade, é organizado, mas adora fazer uma bagunça, transmite seriedade, mas arranca diversos sorrisos.

Sávio tem qualidades de sobra para todos o chamarem de sábio. Mas pra ele a sabedoria está longe do seu alcance, pois ele acredita que o verdadeiro sábio é aquele que adquire diariamente um novo aprendizado com tudo e com todos, e não aquele que acha que já sabe tudo.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

A Favela

A favela é um fenômeno que assombra a metrópole com o seu rápido crescimento que toma conta dos cantos vazios da cidade grande há mais de cem anos. Antigamente qualquer lugar servia para a construção de um barraco, podia ser na encosta do morro, terrenos baldios, na beira de riachos e até embaixo de viadutos e pontes. Essas pessoas que chegavam lentamente com um brilho no olhar acreditando que a vida ia melhorar foram desvalorizados pelo governo, pois para muitos governantes, pessoa pobre é só um número para o IBGE.

O rápido crescimento da população, e também dos barracos alocados em todos os espaços vazios da cidade, fizeram com que muitas pessoas procurassem empregos mais rentáveis, porém não havia empregos, as vagas estavam esgotadas e consequentemente a fome predominava num setor até então inexistente.

Para vencer essa barreira, muitos moradores da favela decidiram ter o seu próprio negócio, o chamado comércio ambulante, para os pioneiros tudo era perfeito, não precisavam pagar aluguel, impostos e ainda ganhavam mais de cem por cento dos lucros, porém com o tempo muitas pessoas decidiram ter o seu próprio negócio, e sem nenhum pudor foram cada vez mais ocupando os espaços vazios da cidade grande e assim gerando entre eles a concorrência, cuja qual o perfeito negócio já não era mais tão atrativo.

O tempo foi passando e aqueles pequenos barracos nos espaços vazios foram crescendo e crescendo..., não havia mais espaço e o jeito foi colocar barracos em cima de barracos, formando então a conhecida favela. Na favela todos se conhecem, se respeitam e protegem o seu espaço. O governo nada fez para impedir o crescimento dos barracos, não criou condições favoráveis para essa nova população, não perceberam que esses mini comércios geravam empregos para pessoas humildes. O governo simplesmente transformou o sonho de um futuro melhor em pesadelo da realidade, onde poucos tinham tudo e muitos nem sabiam o que era ter algo.

A revolta tomou conta dos moradores da favela, que indignados com a realidade, buscaram mais uma vez o seu espaço na sociedade, só que a sociedade não dá espaço para favelados, a sociedade descrimina todo morador da favela e trata-os piores do que cães sarnentos à beira da morte. O morador da favela viu-se sem saída, então, aquela comunidade ficou ainda mais unida e através da ajuda de terceiros conseguiram obter novamente o seu próprio negócio, o tráfico de drogas.

O governo não estava interessado nos problemas dos moradores das favelas, o governo não acreditava na força que um ser humano pode criar quando é desvalorizado, o governo só queria saber dos lucros e do dinheiro do povo.

Então, os “poderosos da favela” começaram agir por conta própria, já estavam preparados para enfrentar o governo e suas regras, para a maioria dos moradores da favela não existia mais nada a perder. Através de uma união e hierarquia, o tráfico de drogas foi crescendo e consequentemente sustentando a favela, as pessoas que não tinham empregos e nem perspectiva de vida agora eram donos do poder e da comunidade, todos tinham seu emprego garantido, uns eram administradores do produto, outros entregadores, enfim, todos ocupavam uma tarefa muito importante para o império do tráfico não falir. Essa evolução fez com que a favela fosse vista com outros olhos, agora ela era vista como um lugar decente para morar e com isso tornou-se uma enorme ameaça para aquele governo que não quis ajudar no começo da história.

Mas no começo a preocupação do governo não era com o tráfico de drogas, era com o dinheiro sem impostos que entrava e saia constantemente da favela, para o governo isso era um absurdo, pois era muito dinheiro que rolava à solta e os líderes do governo não podiam ficar sem um pedaço dessa fatia.

A história e os valores se inverteram, muitos moradores da favela já não queriam só um lugar para morar e trabalhar honestamente, o pensamento era proteger a sua comunidade, o seu espaço, e assim ter todas as coisas que sonhou de uma maneira mais fácil. A favela cresceu de uma forma exorbitante ao ponto de se tornar referência em muitos lugares do país, e o governo passou a se preocupar de verdade, pois a alta sociedade cobrava constantemente o problema de conviver com pessoas de uma classe inferior.
A favela é um resultado de pessoas desacreditas pelo governo que criaram as suas próprias regras.

Esse texto foi criado em 2007, de lá pra cá pouca coisa mudou, mas hoje o governo está buscando respeito e finalmente atacou um dos impérios do tráfico situado na cidade do Rio de Janeiro. Podemos acreditar que tudo irá mudar, porém na minha humilde opinião, essa guerra pode terminar com o fim dos “mocinhos” e não dos verdadeiros bandidos.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os vendedores do busão

O velho argumento: “Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, mas não, estou trabalhando para sustentar a minha família” não é mais usado pelos vendedores ambulantes do busão. Hoje novas técnicas persuasivas tomaram conta desse disputado mercado e usar a criatividade tornou-se a melhor saída para chamar atenção de um público tão disperso.
Durante as minhas longas horas dentro do ônibus (no total são 4 horas por dia) já me deparei com vários vendedores, a maioria oferece o produto para o cliente analisar, após essa breve introdução, fazem o discurso parados no centro do ônibus, local ideal para atingir os ouvidos sem fones dos passageiros. Eles apelam primeiramente para o preço promocional, garantindo que esse preço não tem em nenhum estabelecimento, até aí nada está fora do normal, mas o diferencial está em como alguns vendedores do busão divulgam os imbatíveis preços dos seus produtos.

Já vi um vendedor de chocolates colocar as mãos abertas perto da boca para aumentar o som da voz, como se fosse um megafone e dizer: Atenção, atenção, incrível promoção somente para os passageiros desse ônibus, dois saborosos chocolates pelo preço de um.

Outro que estava vestido de palhaço e que o seu objetivo não era cobrar pelas balas que o passageiro estava recebendo, e sim convencer as pessoas que o valor a ser pago pela bala quem decidia era a consciência do próprio passageiro.

Alguns ainda vão além e saem do comércio alimentício para vender produtos domésticos, certo dia, presenciei uma boa apresentação de um produto que tirava todo o suco da laranja sem precisar cortar ou espremer, bastava fixar o produto no centro da laranja, dar algumas apertadas ao redor e pronto, o suco estava dentro do copo e sem caroço para ser degustado. Talvez ele não tenha percebido, mas esse vendedor do busão seria bem útil nos pontos de venda espalhados nos grandes supermercados da cidade.

Agora, o que realmente me faz pensar em tirar algumas moedas do bolso não são os vendedores do busão, eles perdem feio para os cantores do busão, esses criativos músicos e muitas vezes afinados cantam entre uma lombada e outra sem sair do tom, em pé, se equilibrando e tocando violão, conseguem transformar o ônibus em grande palco, passageiros em plateia e o trânsito em festa.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A sua consciência está tranquila?

Provavelmente a resposta é afirmativa, pois você não chega atrasado ao trabalho, se dedica intensamente em todos os projetos da sua vida, mantém a fidelidade no matrimônio conjugal, não agride outras pessoas e é o maior exemplo de bom caráter para a sua família. O seu bem-estar e das pessoas ao seu redor só faz aumentar o ego da sua felicidade.

Agora olha pra fora do mundo em que você vive e ouça o que o Planeta Terra pensa de você:

Eu imploro por piedade a cada segundo. O ser humano só pensa em si mesmo. A individualidade já faz parte do cotidiano e ser egoísta virou questão de orgulho. Em toda praça pública é visível a grama ser forrada por papéis, e sacos de lixo formando imensas árvores enraizadas. Nos rios e mares, peixes são devorados por diversos pedaços de lixo e sufocados por redes de pescar composta por sacolas de plástico e óleo químico. Em cada rua tem um furacão de sujeira rodeando as pessoas e sumindo na nuvem negra que esconde o verdadeiro céu.

Poluir o meio ambiente é uma atitude que envolve qualquer tipo de raça, credo ou classe social, mas... A sujeira não é no seu jardim, não é na sua piscina e nem nos corredores da sua casa, não é?

E aí, a sua consciência está tranqüila?