terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Brincadeira sem diversão.

De pés no chão, sujo e despenteado, ele caminha como se estivesse pulando amarelinha pelas ruas do centro da cidade de São Paulo, seus longos dias de mendigo escondem sua pouca idade. Ele não tem mais que 12 anos, porém demonstra graduação na matéria malandragem.
Com os olhos cheios de lágrimas e demonstrando tristeza, ele se aproxima das pessoas, estende a mão em forma de jockey pow e pronuncia algumas palavras que pelo jeito fazem parte de um vocabulário criado por ele.

- Tzio, mne dá algjunzos tichero.
- ???
- Tzio, mne dá algjunzos tichero.

É nítido que a sua cabeça está sobre efeito de algum tipo de droga, ele tenta disfarçar, mas é pego pela inocência que ainda faz parte da sua idade. Ninguém da fila está disposto a brincar de sustentar vício, mas ele insiste em seus argumentos indecifráveis. Ele não quer saber se vai ganhar um real ou um centavo, ele apenas sabe que dentro das regras do jogo, o dinheiro vivo é o mais importante para sustentar seu vício.
Dentro dessa brincadeira um pouco de alimento, um cobertor quentinho ou um guarda-chuva para protegê-lo da tempestade são descartados como brinquedos sem utilidade.

Pra ele, nada é mais divertido do que sentir a brisa, viagem ou, seja qual for o adjetivo que ele usa para saciar sua fome do crack. E mesmo brincando de pega-pega ou cabra cega, ele sabe que cada pedra do asfalto duro da cidade faz parte do seu quintal, do seu endereço e do seu lar que é conhecido como cracolândia, a cidade dos perdidos.

E toda sua energia é depositada dia após dia para conseguir entrar num mundo de fantasias, e quem sabe, esquecer por alguns minutos que tudo aquilo não é uma divertida brincadeira de criança.

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